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    Pelo telefone: a pedido da Rádio Batuta, artistas escolhem suas preferidas na Discografia Brasileira

    Pedro Paulo Malta

    Se 2020 será tristemente lembrado pela pandemia que abalou o mundo, ficará também a lembrança de como as artes têm socorrido isolados e quarentenados. E a música, seja através de “lives” ou serviços de streaming, tem papel fundamental nesse contexto, tocada em computadores, TVs, smartfones, tablets e o que mais se possa acessar do confinamento. O próprio site Discografia Brasileira é um que recebe visitas diversas, de todos os cantos, de todos os tipos. É o caso dos 21 artistas convidados pela Rádio Batuta a participar da série “Pelo telefone”, com a missão de escolher uma entre as mais de 63 mil músicas do nosso banco e mandar pelo celular uma mensagem com o pedido. O resultado é diverso, embora com uma predominância de lançamentos da década de 1950 e em ritmo de samba.

    A começar pelo cantor e compositor Zé Renato, que decidiu prestar homenagem a Aracy de Almeida escolhendo “Feitio de oração” (Noel Rosa e Vadico), que ele define como “um dos mais bonitos sambas já feitos na história da música”. Martinho da Vila foi outro que escolheu um samba sobre samba, no caso o maior sucesso de Zé Kéti, “A voz do morro”. Ainda do repertório tradicional são as pedidas de Pretinho da Serrinha – “Pois é” (Ataulfo Alves) – e Marcos Valle, que explicou sua escolha dizendo-se fã de Dorival Caymmi (autor de “A vizinha do lado”) “desde criancinha mesmo, quatro ou cinco anos de idade”. Já Carlos Lyra rebobinou só até 1960: ano de sua gravação para o samba-canção “Quando chegares”, sua primeira composição.

    Quem também voltou no tempo foi Wanda Sá, que pediu o samba “Rapaz de bem” (Johnny Alf): “Das primeiras músicas que eu aprendi a tocar no violão.” O pianista e compositor foi lembrado também por Ed Motta, que quis ouvir “O tempo e o vento”: “É maravilhoso escutar o Johnny Alf cantando em 1956, extremamente moderno, usando os efeitos na voz que ele sempre fez, muito à frente, com sotaque jazzístico.” Apontado como uma das principais influências da turma da bossa nova, que ia vê-lo na boate do hotel Plaza, em Copacabana, Alf é definido por Ed Motta como “eternamente um progressista da música brasileira.”

    A vida noturna do Rio é evocada no comentário de Léo Jaime ao contextualizar o samba “Café soçaite”, composição de Miguel Gustavo “lançada no Vogue, uma boate aqui do Rio que dividia com o Sacha’s os momentos mais gloriosos da noite carioca”, “numa época em que o Rio de Janeiro era realmente o lugar mais charmoso no mundo”.

    Outro nome incluído na ala “progressista” da música brasileira é Dolores Duran, escolhida nesta série por três cantoras. Paula Morelenbaum, que pediu “A noite do meu bem”, a definiu como “uma das melhores compositoras brasileiras”, ressaltando que “elas eram raras na sua época”. Já Fernanda Takai, que selecionou “Por causa de você” (de Dolores com Tom Jobim), ressaltou o repertório da cantora, com “tanta coisa linda, na nossa língua e outras línguas mais.” Justamente por esse motivo o fox francês “La Marie Vison” (Marc Heyral e Roger Varnay) foi a pedida de Fabiana Cozza.

    Do contexto pré-bossa nova são também as lembranças de Marina Lima – “Chove lá fora” (Tito Madi) – e Lenine, para quem o samba “A felicidade” (feito por Tom Jobim e Vinicius de Moraes para o musical “Orfeu da Conceição”, de 1956) foi “uma escolha passional”. Sobre a gravação, Lenine pediu que fosse tocada a do “incrível e maravilhoso Agostinho dos Santos”, “uma voz sublime que poucas pessoas lembram”.

    A voz serviu de critério também para Alcione (na foto deste post), que pediu “Fósforo queimado” (Paulo Menezes, Milton Legey e Roberto Lamego) na interpretação da “nossa eterna rainha, maravilhosa, sapoti Angela Maria, da qual eu sempre fui fã”. Já Leila Pinheiro, que selecionou "Mentira de amor" (Lourival Faissal e Gustavo de Carvalho), relembrou outra grande cantora do repertorio romântico, Dalva de Oliveira: “Ainda que eu seja conhecida como cantora de bossa nova, o canto arrebatado é a minha grande escolha, quando posso.”

    Quem também quis ouvir Dalva foi Mariene de Castro, cuja escolha (“Ave Maria”, de Vicente Paiva e Jaime Redondo) fez com que voltasse a referências musicais de sua infância: “Eu me lembro que minha avó escutava Dalva de Oliveira e cantava as músicas de Dalva dentro de casa.” Também na temática religiosa é “O ronco da pedreira” (Araguari e Renato Araújo), música pedida por Pedro Luís, confiante nos poderes do orixá da justiça: “Xangô e o sol são os regentes de 2020.”

    Joyce Moreno ficou com “Eu quero um samba” (Haroldo Barbosa e Janet de Almeida) num registro de 1955: uma “gravação espetacular” do grupo Os Namorados, com o acompanhamento – não creditado – do “garoto João Donato no acordeom suingadíssimo”. Dos mesmos compositores é o samba “Pra que discutir com madame”, que Alfredo Del-Penho escolheu na gravação do próprio Janet de Almeida: “Gravação cheia de bossa, malemolência e que ensina pra gente uma maneira de cantar samba todo sincopadinho.”

    Bossa é o que se ouve também na interpretação do cantor, radialista e pesquisador Almirante para o samba-choro selecionado por Zélia Duncan: “Apanhei um resfriado”. E também no único número instrumental desta série, “Ameno Resedá” (Ernesto Nazareth), que o pianista André Mehmari escolheu numa gravação de Radamés Gnattali. “É muito interessante que o Radamés faz a melodia inicialmente numa celesta e não no piano”, frisa Mehmari, exultante com “essa verdadeira joia” encontrada “nesse mar de joias que é a Discografia Brasileira.”

    Clique abaixo para ouvir os pedidos e as respectivas gravações: